27 de Janeiro de 1613 é um dia histórico. A frota holandesa ataca a
fortaleza de Solor e as consequências desse ataque mudam a vida de D.
Manuel Álvares que, acusado indevidamente de ter fugido e de ter
entregue a fortaleza, é levado a tribunal, em Goa. Num mundo impiedoso,
os meios justificam os fins e D. Manuel precisa de todas as ajudas para
salvar o seu nome. O reencontro com a mulher amada, a princesa Nenu de
Solor, e a ajuda de um feiticeiro local levam-nos à verdadeira história.
As aventuras, os duelos, as traições, as intrigas, o ambiente
tropical, a passagem pelos cultos hindus transportam-nos para uma magia
irresistível num período muito conturbado e fascinante da nossa
história: o retrato do Império Português das Índias, na época filipina.
Um livro que relembra alguns aspectos menos conhecidos da saga desses
homens que, abandonados pela longínqua pátria, tudo fazem para se opor à
crescente influência holandesa na região.
No dia 21 de Dezembro de 1613 nasce Miguel Molan, depois de um parto
atormentado que leva Nenu para o mundo dos espíritos. A morte da bela
Nenu deixa destroçado o português D. Manuel Álvares, que nunca mais
recupera do desaparecimento do grande amor da sua vida, adoptando uma
vida de introspecção. Mas o espírito de Nenu continua a pairar sobre a
existência de quantos algum dia se cruzaram de forma significativa com o
seu percurso pessoal.
É o caso do oficial holandês, Peter Cornelius, que arrisca a sua
segurança pessoal numa viagem até Goa, território português sob
administração espanhola no período da anexação dos séculos XVI-XVII,
para recuperar livros sagrados e libertar o padre Jaime, aprisionado
pela Inquisição. Conta com a preciosa ajuda do jovem brâmane Simão, do
veterano de guerra Christian van den Bosch e de um punhal mágico para
libertar todos os prisioneiros do Palácio do Sabaio, em Cochim, no ano
de 1617. Mas a expedição reserva ainda algumas surpresas.
O percurso de vida de Miguel Molan vai cruzar-se com um ambiente mágico e
exótico de uma época fascinante mas cheia de contradições: as traições e
o sentido de honra, as intrigas e a entrega a causas aparentemente
perdidas, os cultos hindus e o fanatismo religioso, o amor e a morte. Um
romance que nos faz conhecer personagens que nos revelam as suas
fragilidades e as suas grandezas num período singular da nossa História:
o Império Português do Oriente.
Sentindo-se culpado por ter tirado a vida a D. Manuel, Peter Cornelius
aceita as últimas vontades do seu inimigo, tornando-se assim no tutor de
Miguel Molan. Marcado pelos acontecimentos de 1617, o aventureiro
neerlandês resgata o velho Christian do cativeiro da Inquisição e os
dois tornam-se companheiros inseparáveis. Fogem então com Miguel,
protegidos de muito perto pela eterna sombra de Nenu, princesa de Solor,
que morreu no parto de Miguel corria o ano de 1613.
Juntos navegam para a Europa, numa viagem marcada pela adversidade.
Interceptado por um corsário famoso, de seu nome El Samandris, Peter é
feito prisioneiro e obrigado a separar-se de Miguel, que fica à guarda
de Christian em Marraquexe. Os inseparáveis amigos acabam mais tarde por
se reencontrar e seguir viagem, rumo à Europa.
Em terras da Provença, Peter apaixona-se pela bela e enigmática
Constance, despertando os ciúmes de Nenu. Apesar de morta, a princesa
dos demonaras está sempre presente: «dormir é coisa dos vivos», diz ela,
lançando-se nos ares, transformada em corvo, sempre que vai à procura
do filho. Com o passar do tempo, a afeição que Constance sente por
Miguel acaba por se revelar determinante e fazer com que Nenu aprove o
relacionamento entre os dois amantes.
Das Índias até à Europa, ainda e sempre ao encontro do Livro da Vida.
Entre as perseguições movidas pela Inquisição, as intrigas palacianas e
os típicos confrontos entre corsários e espadachins. A história de um
homem marcado por um segredo do seu passado e a sua luta por se
reconciliar com a vida e com o amor.