Filho de minhotos, João Bento Rodrigues - que ficaria conhecido por
Filili - nasceu na ilha do Fogo no ano da abolição da escravatura. O
decreto não bastou, porém, para que se extinguisse o tráfico, até porque
os negreiros tinham a cumplicidade das autoridades; e foi assim que
Maguika, capturada nas matas da Guiné, se tornou propriedade de Nhô
Filili, trazida por um negociante desejoso de, com presentes, o
conquistar para genro. Contudo, assim que pôs os olhos na negrinha, João
Bento Rodrigues já não voltou a olhar para outra mulher, afrontando a
elite da capital ao entrar na igreja de braço dado com a escrava e, mais
tarde, unindo-se a ela pelo santo matrimónio, desafiando preconceitos e
convenções. Mas, se é verdade que as pretendentes não gostaram de se
saber preteridas, quem mais sofreu foi Leila, a concubina com quem
Filili mantinha laços íntimos e que, de repente, se viu sozinha na
Cidade Velha com um segredo. O passado tem, no entanto, maneiras de
regressar quando menos se espera. E, às vezes, ainda bem.
Tendo por cenário o arquipélago de Cabo Verde entre a segunda metade do século xix e a primeira do século xx, O Legado de Nhô Filili é o retrato de uma África bela e sedutora, mas também dura e miserável, e bem assim uma metáfora da história da mestiçagem biológica e cultural e da génese dos movimentos pela independência das Colónias.
Tendo por cenário o arquipélago de Cabo Verde entre a segunda metade do século xix e a primeira do século xx, O Legado de Nhô Filili é o retrato de uma África bela e sedutora, mas também dura e miserável, e bem assim uma metáfora da história da mestiçagem biológica e cultural e da génese dos movimentos pela independência das Colónias.
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